sábado, 16 de abril de 2011

Eu poderia estar dormindo, ou batendo papo no MSN, ou também andando na praia ou estar na academia. Eu podeia estar escrevendo um post fazendo alguma crítica ligada ao jornalismo, falar do meu TCC, do meu namorado, ou do meu novo estágio. Mas não, não é nada disso que vou falar agora aqui, infelizmente.

É que é sempre assim: a gente só aprende pela dor, pelo susto, pelo medo. E tem que sofrer para passar a dar valor às coisas que mais amamamos.

Era sexta-feira à tarde, 16h40, faltavam apenas vinte minutos para eu encerrar todas as minhas atividades e aproveitar o final de semana. Eu e a outra estagiária lá do trabalho havíamos combinado de sair para comer, e eu recebi uma ligação de um número que eu não conhecia. Achei que fosse minha chefe, mas não. Era meu irmão avisando que sofreu um grave acidente de carro e pedindo para eu ir ficar com ele. Eu não tinha muita noção do que estava acontecendo. Ele me falou que não se machucou, porém o carro estava destruído. Imaginei um amassadinho só, já que ele sempre foi exagerado. Saí correndo do trabalho e fui encontrá-lo. Meu coração estava acelerado, minha cabeça a mil, o choro preso, uma mistura de pena dele e medo do que estava acontecendo.

No caminho, passou um filme na minha cabeça. Porque você as coisas nos jornais e nunca imagina que elas podem acontecer com você.

Mas enfim, cheguei no local do acidente já no escuro. De longe eu vi um aglomerado de pessoas e o carro em uma espécie de campo, irreconhecível. Ele veio me encontrar com um nó na garganta e eu desabeeeeei. Não conseguia imaginar que meu irmão estava dentro daquele carro, destruído, com pedaços e vidros espalhados para todos os cantos. Acho que nunca abracei meu irmão tão forte e eu nunca tive coragem de falar o quanto ele é importante para mim. Conferi com meus próprios olhos se ele estava bem. Relutei muito e fui perto do carro. Nao sobrou um vidro, quem vê imagina que o condutor se feriu muito ou pior que isso. Ele machucou apenas o braço com o vidro.

Fiquei ao lado dele esperando a polícia e o guincho. Ele conversava, resolvia tudo, mas eu o conheço o suficiente para entender tudo o que se passava dentro dele. Até agora eu não tive coragem de abraçá-lo bem forte e dizer o quanto eu o amo.

O prejuízo material foi alto, mas o que é isso? Isso não é nada. Sobrou para mim a incubência de avisar meus pais. Mas como fazer isso? Respirei fundo, liguei e passei o lead: o que, como, onde, quando, consequências, quem. E eu que estou aguentando a barra. Vendo ele mal, ouvindo meus pais a cada cinco minutos querendo informações... e guardando tudo, sem poder mostrar o quanto eu também estou abalada com isso.

Aí, todo mundo me pergunta: "Mas porque você está tão abalada se vocês vivem brigando?". É que, aqui em Vitória, somos só nós dois e pronto. Bate um desespero danado quando eu imagino as cenas do acidente e lembro o estado que o carro ficou. Foi uma milagre. Ele poderia ter morrido. Me senti pior ainda quando vi que a pessoa que bateu nele estava lá com marido e ele estava sozinho, sem ninguém para ficar ao lado dele dizer: "Eu tô aqui com você, calma".

Eu sempre fui orgulhosa, briguenta, implicante e estressada com ele. Nós brigamos muito, mas não somos de fazer manifestações de afeto. Mais difícil do que ter que apoiá-lo, dizer que "tudo passa", vê-lo assim, assustado e pensativo, é ter que me fazer de forte [coisa que eu não sou], segurar o choro, prender o grito.

Esse post não é simplesmente a narração de um acontecimento. É, sim, um desabafo.

A conclusão disso tudo? Eu nunca fiquei tão mal como estou agora. Parece que a ficha ainda não caiu, mas só de pensar nas consequências que isso poderia trazer, bate um desespero enorme. Vou publicar o post, aproveitar que estou sozinha, chorar escondida, rezar para ele, esperar ele chegar e dar um abraço bem forte nele. Tchau!

[Mas não, eu não sei ser forte]

Agora eu sei exatamente o que fazer
Vou recomeçar, poder contar com você
Pois eu me lembro de tudo irmão, eu estava lá também
Eu segurei minhas lágrimas, pois não queria demonstrar a emoção

Mas pra quem tem pensamento forte o impossível é só questão de opinião

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